E esta cidade te testa todos os limites, de tempo, paciência e disposição.
Na cercania de onde eu morava, sempre encontrava um tempo para retratar o que se passava comigo. Por ser uma cercania, quase sempre estava na mesma situação, risos. Sinto falta de lá.
Aqui se estoura uma bomba a cada quinze minutos. Seja sobre o amigo, seja sobre o amante, seja sobre o amado.
Não temo em dizer que tenho o que pedi.
Essa confusão com meus sentimentos, essa alucinação/fantasia para com algumas expectativas que sempre serão desleais, mas sempre serão uma espécie de exercício para que eu esteja preparado para o que vier.
O dia dos namorados chega e mais uma vez me dou conta de que apenas é uma data comercial. Um dia para se vender mais tudo que seja vermelho, rosa ou em formatos arredondados.
Seja dia doze, treze ou quatorze, é apenas uma data. É apenas um dia a mais.
Não que eu esteja amargo por não ter a quem presentear nesse dia. Eu vou.
Eu vou me presentear.
Me presentearei com três comprimidos de Rivotril.
Não partilho dessa política de ter de depender de dias pré-fixados pela mídia ou pela história para fazer ou não as coisas.
Meu dia dos namorados é todo dia. Assim como para mim o aniversário, o dia do amigo e o dia das mães.
Sinto para os que precisam de trezentos e sessenta e cinco dias para presentear alguém e finalmente lhe dizer que gosta; eu não.
Faço isso todo dia.
Farei isso todo dia, quando tiver alguém só meu.
Quando tiver alguém que me queria de verdade,
e que me peça para manter segredo o 'nós'
porque se o segredo é mais gostoso
há a possibilidade de ficarmos melhores ainda.
Então me pedirá para ficar do lado,
em cima e atrás.
E que não precisará pedir para ficar na mente pois,
isso estará escrito nas paredes, nos carros que passarão.
Então o único gesto, simples e antigo
de tomar a mão do outro para atravessar a rua
ou o corredor
me fará finalmente um cara sorridente.
Um devaneio. Me desculpe.
HuG