A bebida diurético o fizera sentir vontade de ir ao banheiro. Olhou para frente e viu dois bonequinhos, um rosa e um azul(ambos com chifres, vale ressaltar) que lhe indicavam o caminho. Olhar aquela pista cheia de cima não o motivava nenhum pouco, visto que se não fosse a dor na bexiga, deixaria para depois. Com a garrafa pela metade na mão, seguiu em direção as escadas. Estava tonto, mas tivera a certeza de que uma música já havia passado e ele somente estava no meio da pista. Era difícil passar, e não era o único a enfrentar o sufoco de uma bexiga apertada. Um homem barrigudo, daqueles que exibe as esposas, namoradas, putas seja lá o que sejam, se emputeceu(puta, emputeceu... enfim!) e empurrara um rapaz que segurava um drink. Para a sorte desastrada de Algustus, aquela bebida escorria por suas costas quentes. Estava gelada, mas para as costas dele, pareciam punhais a rasgarem-na. Se contorcera e fizera uma cara de dor.
-Pardon! Je suis vraiment désolé. Desculpe-me!
O pobre rapaz parecia ter assumido a culpa dele por estar com aquele drink e do barrigudo por ter nascido ignorante. Franziu a testa e olhara Algustus como se assumisse a culpa de todos naquela boate seja lá por quais motivos. Algustus deixara pra lá. Não por estar bêbado, mas sabia que aquilo fazia parte. Poderia ter a expressão fechada, mas Algustus era todo pacífico.
-Tá tudo bem. Relaxa.
Aquela agonia gelada só almentava a sua vontade de urinar. Chegara a lagrimar quando terminou. O alívio quase lhe fizera suspirar, mas Algustus o deteve. A mancha molhada já não ardia mais. Já estava um pouco suado, então não faria tanta diferença agora.
De frente para o espelho e enxugando as mãos, Algustus não pode deixar de reparar no forte sotaque do loiro que insistia em se desculpar pela bebida.
-Você veio aqui só para se desculpar?
-Sim.
-Se merecias um castigo, já o tiveras enfrentando essa multidão de gente.
Riram. Estendeu a mão e se apresentara como Louis.
Perguntara mais duas vezes se estaria mesmo bem antes de Algustus voltar para o camarote. Olhou para trás e levantara o polegar em resposta a aquele olhar preocupado. E lá se afastava a mancha nas costas de Algustus, se perdendo pela multidão.
Abriu mais uma cerveja se lembrando do episódio recente. E arriscara uma gargalhada solítária ao ver que havia um banheiro vip há menos de três metros de sua mesa.
Já eram três e vinte e dois e a pista agora começava, vagarosamente a esvaziar. Seu balde já era quase todo água. As garrafas vazias formavam uma fileira na mesa.
-Mais uma e eu vou embora.
Algustus se referia a música. Logo se deu conta que a batida trazia consigo "One more time" do Daft Punk, banda que ele tanto gostava. Fechou os olhos e, participou da dublagem coletiva.
A noite não poderia ter sido melhor, ou se sim, o álcool o impedia de ter imaginado como.
Terminada, como prometido, Algustus ruma em direção a escada. Um pouco difícil de ir até a saída, não por estar lotada, mas é que caminhar cruzando as pernas, torna-se uma tarefa para experiêntes.
A noite resfriara a brisa mesmo sendo início de verão.
Pegou o celular, e coçando a cabeça, tentava encontrar o número do motorista na agenda
-Posso ajudar-te?
Uma voz grave ditou isso por cima do seu ombro. Disfarçando o arrepio, virou-se rapidamente e vira que era Louis.
-E ai guri? Tudo bem?
-Tudo. E com você?
-Ainda.
O sorriso de Louis o lembrara do episódio, e a então tontura fizera rir do que havia acontecido, contagiando Louis.
Louis reclamara de cansaço, então Algustus o convidou para sentar-se ao seu lado em um canteiro do outro lado da rua. Enquanto na batalha para encontrar o numero do taxista, a conversa se desenrolava facilmente. Quando não era Louis, Algustus mesmo puxava assunto, e ambos não reparavam no tempo que passava.
-Perdoe-me, mas creio estar te segurando aqui... Não se sinta preso, podes ir quando quiseres.
-Não cara, imagina. Tô tentando achar o número do motorista, mas tá difícil.
Algustus ao ter puxado o jeans para sentar, não reparou no que o seu bolso havia cuspido. A penas uma ponta de um papel que fora visto por Louis.
- Não seria isso aqui?
-Nossa, que pateta que eu sou. E tava procurando há um tempão na agenda!
-Pateta, não!
-Desculpa perguntar, mas de onde és?
-O sotaque entrega-me?
-Também, mas o que mais chamou a atenção é que falas muito certinho...
-Paris. Participo de um intercâmbio escolar. Em meu colégio, os alunos que falam alguma língua fluentemente, tem o direito de visitar o país de origem.
-Ah, legal. Então tenho até o fim do intercâmbio para te ensinar a falar errado como eu.
Algustus não fazia a mínima idéia de onde saíra tanta espontaneidade. Poderia até ser pelo álcool, mas que o estava ajudando bastante estava, pois além de prolongar a conversa, provocava sorrisos a toa em Louis, que se não fosse pela noite, Algustus teria a certeza de que tratava de um reflexo do sol.
A chegada do motorista trazia junto a lembrança do seu nome, e também o término da conversa que passava de uma hora. Louis guardava o seu número, e um longo abraço (Louis também havia bebido) encerrava a despedida.
Entrara no carro. Louis acendera um cigarro. Agora Louis, a fumaça de seu Marlboro e a boate ficavam para trás.
Algustus não pensava em nada, somente sentia a gostosa brisa gelada em seu ser.
Estava do jeito que imaginara. Do jeito que queria.
-Era um amigo seu?
-Hã? Ah! Sim. Sei lá... Ele derramou bebida em mim e tava se desculpando.
Carlos olhara Algustus por uns segundos a mais pelo morcego do carro. Viu que passava a mão na cabeça tentando enxergar as oras... Sua tentativa foi em vão então resolveu encostar a cabeça que agora estava toda descabelada.
Sorriu e voltou a sua atenção a rua.
Carlos esperou dentro do carro Algustus entrar.
Passara pela porta. Ligara o alarme. Checou as fechaduras e subira as escadas.
Ao cochilar, babuciou o nome de Louis por 3 vezes.
As roupas ficaram aos pés da cama, onde Algustus dormia um sono merecido.
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